segunda-feira, 20 de novembro de 2017

CULINÁRIA PEDAGÓGICA: Transformando dificuldades de aprendizagem em doces receitas

                                                                                 

 Desde muito cedo descobri com minha avó, com minha mãe e minhas irmãs as delícias da cozinha.
Passava as tardes com vovó  Aurora e lembro dos cheirinhos dos lanches sempre elaborados, mesmo que fosse só para nós duas: rabanadas, bolo de rolo, bolo de laranja, suspiro, pão de minuto. Coisas de vó!!! Memórias afetivas e sensoriais que nunca se apagam, que curam dores, saudades, angústias, ansiedades , e que constroem as pessoas que vamos nos tornando.
Ao iniciar meu trabalho com crianças com autismo me deparei com um dos aspectos que envolvem o transtorno e que torna mais difícil a interação com alguns deles: descobria algum interesse que pudesse servir de "ponte" para a nossa comunicação.
Lembrei do prazer que os cheiros, gostos, sons e texturas de uma cozinha proporcionam a qualquer pessoa e que, invariavelmente poderia dar certo também com eles também. E deu!!!!
Me lembro como se fosse hoje dos olhos de Carolina se iluminando e de seu sorriso brotando quando saiu do microondas um simplérrimo bolinho de caneca, que foi provado, e servido com muita euforia e emoção.
Daí em diante, foram pizzas, pães de queijo, pipoca, cupcakes, saladas de frutas, tapiocas, bolos , panquecas e tudo mais que continuo cada dia a inventar e adaptar para um período de atendimento de 50 minutos e que podem ser feitos em aparelhos elétricos, sem uso do fogão. Atualmente, por conta da dieta restrita de alguns deles sem consumo de glúten, lactose e caseína, tenho me dedicado a aprender receitas mais naturais e me empenhado no campo da nutrição para tornar até mesmo receitas sem açúcar em apuradíssimas delícias para o paladar e para a emoção.
Cada receita serve para trabalhar neles competências e habilidades que precisem ser estimuladas tais como: coordenação motora 
( mexer, descascar, amassar, abrir latas, abrir garrafas, enrolar biscoitos, confeitar, cortar,  escrever , lavar a louça,etc), atenção e concentração ( ler a receita, separar os ingredientes, observar as medidas das receitas, observar o tempo de cozimento, etc), quantidade , raciocínio lógico, leitura e escrita habilidades sociais ao servir as receitas prontas, entre outros... os objetivos e hipóteses de utilização desta metodologia que integra o lúdico, o pedagógico e o terapêutico são infinitas.
Já ouvi expressões do tipo: -Estou emocionado para comer esse bolo!! - Você está feliz? Eu estou feliz! - Cozinheiros se sujam mesmo, não tem problema!!! E atrás de cada expressão dessas a concepção de que através deste simples prazer estou contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento de cada um deles.
Muito além de trabalhar as questões ligadas as dificuldades de aprendizagem estamos trabalhando juntos o que Françoise Dolto   , psicanalista que dedicou-se ao cuidado e observação de crianças pregava: AO INVÉS DE ENSINAR ALGUMA COISA A ALGUÉM, APRENDA COM ELA,as crianças, assim como as pessoas com deficiência são esponjas vivas de tudo que está ao seu redor, só cabe a nós ,aprender como ajudá-las e no fim , seremos nós mesmos  os mais beneficiados.

terça-feira, 4 de abril de 2017

O Cristo iluminado de azul

Muito mais do que um símbolo, a imagem do Cristo Redentor no Rio de Janeiro representa um local onde fé, emoção e esperança se encontram.
Cartão postal do Rio de Janeiro, já inspirou poetas e compositores. 
Já foi ,literalmente atingido por raios, e ao olharmos para ele de qualquer lugar da cidade onde seja visível, nos sentimos imediatamente acolhidos pela sua proteção misteriosa e poderosa.
Quando se chega lá em cima e nos deparamos com seu tamanho e impacto, um sopro de humildade, reflexões e emoções se apoderam de nós. 
A sua grandiosidade nos remete ao fato de nos vermos tão pequeninos , tendo apenas a FÉ ( que é invisível) a nós conectar. 
É a constatação da nossa fragilidade, humanidade e imortalidade , mas é principalmente a certeza de que nunca estaremos desamparados ou sozinhos em nossos caminhos.
Ontem eu estive no Cristo Redentor pela terceira vez na minha vida..., cheguei as 18:00 , quando a luminosidade natural do dia ia se apagando e o Cristo se iluminando gradativamente de AZUL, a cor do movimento de conscientização sobre o AUTISMO.
Foi uma subida marcada pelos risos alegres das crianças, pelo brilho do olhar dos seus pais pela sua alegria e contentamento de estarem participando desse dia , pelo doce perfume da natureza que nos envolvia e pela emoção de estar vivendo aos 45 anos, uma plenitude profissional, pessoal e espiritual.
No momento em que a AVE MARIA foi tocada por um pequena orquestra de cavaquinhos que ali se encontrava e as mães dos AUTISTAS foram homenageadas, a emoção que me acompanha em tudo que faço transbordou e eu olhei firmemente para a grandiosidade daquele momento, agradecendo por estar ali e agradecendo muito mais por ser um instrumento do equilíbrio e da harmonia do universo através do meu trabalho, da minha fé e da minha conduta de vida.
Apenas agradeci, pois a vida tem me dado mais do que  suficiente para eu me tornar uma pessoa cada dia melhor, pois ela me molda pelo amor , enquanto eu vejo a minha volta tantos moldados pela dor.
Então , quando as estrelas já estavam acesas e a lua juntava sua luz à do Cristo Azul, senti o verdadeiro sentido de estarmos aqui neste plano, e simplesmente agradeci ...
O Autismo atinge hoje em dia uma criança a cada 65 nascimentos, segundo as estatísticas da OMS , atinge também os pais dessas famílias, os irmãos desses meninos e meninas, os professores que os recebem, os terapeutas que os acompanham...
Quem serão esses, que com sua presença nesse planeta mobilizam uma corrente tão poderosa de amor a ponto de iluminar de Azul o maior símbolo de uma cidade??
Serão anjos, que vieram nos ensinar tolerância, auto aceitação, paciência, disciplina, humildade?
Serão luzes, que vieram iluminar o que se encontrava escurecido em cada um dos que os rodeiam?
 Talvez um dia saberemos os porquês... porém o mais importante é compreender que são eles que nos ajudam e não o contrário... nos fortalecem, encorajam e enternecem. 
E ontem ,sob a luz azul do Cristo Redentor, todos voltamos para casa com os nossos  anjos azuis, certos  de que , embora sem explicações que possamos compreender nesse momento, não estamos sozinhos nesse caminho de aprendizado mútuo e estamos a cada dia mais iluminando e propagando essa luz azul pelo mundo.





segunda-feira, 13 de março de 2017

Mais um experiência inclusiva

A ideia de criar este blog me foi sugerida e incentivada por várias pessoas, por diversos motivos.
Uns ,eram apreciadores da minha forma de escrever, outros ,estavam ávidos por compartilhar minhas experiências com a educação, principalmente a educação especial, porém o que fez essa ideia decolar mesmo foi o incentivo de uma pessoa que nem mesmo conheço pessoalmente, mas isso é história para outro texto.
Comecei bem despretensiosamente, me deixando levar pela intuição.
Pensei em fazer algo técnico , mas quem me conhece sabe que não consigo fazer nada sem emoção, e daí, surgiu o primeiro texto QUEM SOU EU? DE ONDE VENHO? PARA ONDE VOU?
A intenção de falar de educação permanece  mas , misteriosamente, guiada por sentimentos ligados a cada fato narrado , foi surgindo um blog recheado de experiências , conhecimento e muita emoção.
Depois do último texto, SUPERAÇÃO, falando da trajetória inclusiva do querido Otávio Nogueira e que teve 1784 visualizações , fiquei extremamente feliz em estar podendo atingir tantas pessoas e repartir com elas doces momentos que acrescentam de alguma forma em suas vidas.
Porém, e depois?
O que escrever depois?
Nunca planejo. No dia que me inspiro , sento e escrevo, quase que como recebendo palavra a palavra na minha cabeça.
Hoje, domingo de manhã, sentei para tomar café, contemplando o lugar que moro e agradecendo por mais um dia e me lembrei de mais uma pessoa que foi muito especial na minha caminhada.
Convido você leitor ,a conhece-la e admirá-la junto comigo.
Em meados de 2008 ,o NAPES , Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado do qual fiz parte, foi convidado a acompanhar um novo aluno que foi matriculado no 1º ano do ensino médio.
Era o primeiro aluno autista matriculado no Ensino Médio desta escola estadual.
Ele era muito peculiar e  envolvente... logo conquistou a equipe do NAPES com sua inteligência, perspicácia e absurda capacidade de raciocínio matemático e memória prodigiosa para alguns fatos  .
Mas os seus colegas de ensino médio não estavam acostumados a uma pessoa tão diferente, que misturava perspicácia com inocência, e aconteceram de início ,atitudes muito inadequadas em relação a ele por falta de conhecimento a respeito da sua personalidade, essas atitudes não se resumiram aos colegas, também para os professores tudo era novo.
Seu nome: PEDRO JOSE.
Não gostava de relógios no braço esquerdo, coisas redondas, atrasos então, nem pensar!!!
Diante dessa nova experiência, aproveitamos a inclusão do Pedro para realizar um mega trabalho sobre Bulling com todos os alunos da escola, sem que os mesmos percebessem que estávamos tendo como personagem principal Pedro.
Contamos com a colaboração brilhante do LAPEADE da UNIRIO coordenado pela nossa maravilhosa amiga de caminhada inclusiva , professora Mônica Pereira dos Santos , e no dia marcado, toda a escola parou para discutir em grupo temas sobre preconceito, violência psicológica  e outros. Aos poucos todos foram se encaixando em determinadas situações apresentadas, até que uma menina falou: Para tudo!!! A gente tem feito isso com o menino novo!!!
A partir de então , foi esclarecido para todos , as características do autismo, as adaptações e manejos para o convívio com os mesmos e o mais importante, já havia sido despertado o senso de solidariedade do qual Pedro tanto precisava e dai em diante deslanchamos...
Ao final do terceiro ano Pedro sentia-se em casa na escola. 
Professores difíceis (as vezes mais difíceis do que ele), aprenderam a adaptar-se e a adaptar seus conteúdos e avaliações para ele.
Os colegas, tornaram-se realmente seus amigos, ele finalmente encontrava-se muito feliz!!!
Nunca perdi contato com Pedro e sua família, pois a amizade extrapolou o profissionalismo e anos depois Pedro foi fazer um experiência de trabalho comigo na Orientação Educacional da mesma escola, como "auxiliar da coordenação"", como ele se auto intitulou. Ao final de um ano , achou que já tinha estado tempo suficiente me ajudando e resolveu que o que queria mesmo era trabalhar na Rede Globo. Como não pude concorrer com a Rede Globo , ele se foi, mas sempre me mantenho por perto dele, vibrando com suas conquistas  que também são minhas,e acompanhando o seu desenvolvimento.
Pedro é mais um exemplo de superação e possibilidades que compartilho com vocês, . Exemplo e inspiração para pais, educadores e profissionais.
Mérito de dona Rosalina e sr. Pedro, pais dedicados , amorosos e incansáveis ,a quem eu deixo aqui toda minha admiração e afeto!!!!!


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

SUPERAÇÃO

Falar de superação parece muito pontual e simples.
Por superação , entendemos ser a quebra dos limites, ir além do que se é provável para pessoas e circunstâncias.
Superar uma circunstância difícil, um problema inesperado, uma dor, uma ausência, uma etapa...
Todos nós , dia a dia ,estamos nos superando, estamos superando pequenos e grandes obstáculos a cada minuto, com nossas escolhas e decisões  nem sempre bem elaboradas.
Mas,para as pessoas com deficiência , a superação parece ser algo que demanda ainda maior esforço e empenho, mas acredito, que o gostinho que eles sentem ao chegarem ao fim do caminho vitoriosos, seja muito mais saboroso !!!
Em 2008 , fui convidada a compor a equipe do NAPES - NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO ESPECIALIZADO , pertencente à Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro.
O objetivo do NAPES era implementar a política de educação inclusiva nas escolas regulares de ensino médio do estado do Rio de Janeiro, além de orientar professores e acompanhar o desenvolvimento dos alunos com diversos tipos de deficiência, incluídos nessas escolas.
Fui um período de muito estudo, cada nova descoberta em relação a alguma deficiência era uma deliciosa surpresa. Saber que agora , haviam saberes e experiências concretas que poderiam facilitar o desenvolvimento e a frequência desses alunos na escola, nos enriquecia como profissionais e como pessoas.
Novas amizades surgiram, amizades de trabalho que se tornaram amizades de vida, mas isso é outra história, para outro texto!!!! Mas eu garanto que as amizades feitas em meio as dificuldades e emoções vivenciadas, formam laços tão fortes e verdadeiros que são impossíveis de se desfazerem.
Aprendemos Braille, LIBRAS. Estudamos sobre Tecnologias Assistivas,e nos debruçamos em legislações e decretos que garantiam os direitos desses alunos e seus familiares.
No primeiro momento a empolgação toma conta , porém na prática a história é outra, essa história, esse caminho, também foi de muitas barreiras, preconceitos e superações a serem vencidos.
Uma tarde recebemos um chamado agendando uma determinada escola em Jacarepaguá que deveríamos visitar e acompanhar a inclusão de um aluno novo. 
Partimos determinadas , ansiosas e  temerosas. Tratava-se de um jovem com paralisia cerebral, sem comunicação verbal e cadeirante, sem dúvida um caso difícil e trabalhoso onde iríamos ter que atuar com tato e profissionalismo.
Os questionamentos da escola foram muitos, dos profissionais envolvidos, inúmeros . Daria certo? Ele realmente entenderia o que se passava ,? Seria capaz de absorver alguma coisa mínima que seja dos conteúdos? Como seria a comunicação com ele? Quem acompanharia ele?
Chegamos para a reunião e nos deparamos com um rapaz lindo e sorridente e com uma mãe corajosa e determinada ,disposta a tudo para fazer valer os direitos dele.
Nos apaixonamos imediatamente pelo sorriso e carisma dele, ele falava com os olhos, e como aqueles olhos nos diziam coisas, nunca esquecerei aquele primeiro olhar que trocamos...
Definitivamente eu aprendi a ler os olhos e o que eles queriam dizer, com ele...
Depois dos preparativos iniciais e as adaptações necessárias, quando chegavámos na sala de aula para verificar como ele estava, de longe ele já me olhava sorrindo, e modestía a parte o sorriso para mim era diferente rsssss.... ( Já falei que sou um encantadora).
Otávio era o nome dele , e por Otávio e para Otávio nos nos empenhamos, estudamos, brigamos, aprendemos e nos emocionamos diversas vezes.
Ele foi exemplo e abriu caminho para vários outros alunos com paralisia cerebral cujas famílias tinham receito do processo inclusivo. 
Foi exemplo para os colegas de sala e da escola toda.
Foi exemplo para os professores e foi exemplo para o próprio NAPES.
Se o processo inclusivo de Otávio deu certo, qualquer outro também teria sucesso.
Ele tinha uma mediadora que permanecia com ele em sala de aula.
Usava o computador e acoplado a ele , ao lado da sua cabeça, ficava um mouse que era acionado para fazer um processo de varredura de letras com as quais ele escrevia na tela . 
Pura superação, pura criatividade, pura tecnologia, mas por trás disso tudo tinha uma mente perfeitamente consciente do seu potencial.
Chegou ao terceiro ano do ensino médio e na formatura foi homenageado pelos colegas com emoção e alegria, muita alegria!
Nosso choro foi de emoção e gratidão, por ter participado com ele desse desafio, por ter percorrido com ele e por ele esse caminho. Aquela vitória ,naquele dia, também era um pouco minha , e a história de superação do Otávio é  só um de muitos exemplos que não me permite estagnar ou recuar quando me encontro com as dificuldades do caminho.
Hoje, estou escrevendo super emocionada e morrendo de saudades...
Otavio e sua mãe vivem me prometendo um lanche da tarde com bolo e coca-cola que nunca se concretiza.
Mas não tem a menor importância, importante mesmo é que além da superação , da gratidão, do desenvolvimento e das conquistas que todos os envolvidos nessa história ganharam, está a amizade forte e verdadeira, marcada não em relatórios e fotos , mas nas nossas almas eternas....
Qualquer dia desses vamos nos encontrar para nosso bolo com coca-cola, e hoje, espero que cada um de vocês leitores possa se inspirar no exemplo dele nos momentos de pedrinhas nos sapatos e poeira nos olhos...
Beijosss  e abraços acolhedores e inclusivos!!!!

Daniela Marques




 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

E quem é o Orientador Educacional???

  Olá amigos, no texto anterior eu prometi falar e dar exemplo sobre as funções cognitivas, porém o objetivo dos textos do blog são ,além de informar e atualizar , passar para vocês leitores emoções que possam ser compartilhadas ... Não tenho roteiros pré estabelecidos  e meu compromisso é com a informação e aprendizagem sem tirar o prazer de quem estar lendo e tornar a coisa enfadonha...
Hoje ao sentar para escrever, tinha acabado de fazer o mural de boas vindas da escola de ensino fundamental. Trabalho como Orientadora Educacional em duas escolas, uma de ensino fundamental e outra de ensino médio, que sortuda né? Quanta variedade de personagens  de diferentes idades, e aspectos sociais passam pelo meu caminho todos os dias... Adoro!!!! Adoro crianças, adoro adolescentes!!! ( E adoro bichos, mas isso é papo para outro texto rss...)
No universo de cada um deles, me envolvo nos mistérios que influenciam, para o bem e para o mal, seus comportamentos, sentimentos e consequentemente a sua aprendizagem, não apenas a pedagógica ,mas seu modo de ver a vida e  de se relacionar com ela.
Quem é o Orientador Educacional? Quem é essa tia que ajuda a gente, chama nossos pais quando é preciso e enxuga nossas lágrimas quando não queremos entrar ou queremos ir logo embora?
Quem é essa professora que escuta os conflitos adolescentes, tira nossas dúvidas, faz testes e nos leva para conhecer lugares legais, e também passa o maior sabão quando a gente vacila???
Sou eu, Dani!
 Quer dizer, esse é um dos meus papéis, um papel de uma responsabilidade tremenda, que esbarra em aspectos familiares, escolares, sentimentais e até mesmo religiosos.
Comecei bem devagar nesse meu papel, isso para não dizer o contrário.
Encarei logo uma escola de ensino médio com 3.000 alunos , em três turnos e 72 turmas,  e euzinha , a única Orientadora Educacional da Escola. Loucura!????? Total!!!
Eles me absorveram de tal modo com suas problemáticas e com seu amor e energia de quem está começando a enfrentar o mundo, que certos dias eu chegava em casa e dormia de roupa...
Escutei desabafos, dei broncas homéricas, fui causa da desistência de suicídios, ajudei quem não conseguia aprender da maneira formal, briguei com todo mundo para defende-los,contei aos pais sobre gravidez precoce, segurei vários cigarros de maconha pegos no flagrante e que acabam em mim, pois na verdade eu era uma resolvedora de problemas. Tinha problema: manda pra Tia Dani!!! Não sabia o que fazer: Manda pra tia Dani!!!
Isso me custou reflexões muito sérias sobre a vida, o mundo e a sociedade, onde eu via meus jovens sempre tão cheios de problemas com tão poucas oportunidades , e outros jovens tão sem problemas e cheios de oportunidades. Onde começava o direito de um e terminava o dos outros???
Muitas vezes fiquei tão angustiada de COMPRAR o problema deles e não ter como resolver, que adoecia..
Mas também participei e organizei com eles , festas maneiríssimas,  formaturas espetaculares,passeamos por lugares tão inesquecíveis e marcantes que estaremos sempre nas lembranças uns dos outros.
As tardes na sala de Orientação eram indescritíveis , a rotatividade de vida, de risos, de alegria, me abasteciam para o lado difícil da jornada.
Oh saudade!!! Naiara, Glauber, Analice,Letícia, Greiciane... hoje, eu acompanho o caminha de cada um com orgulho de ter feito parte desse pedacinho da vida deles.
Ser um Orientador Educacional, vai além de auxiliar no teste vocacional, na escolha da profissão, na celebração da formatura, na orientação sexual.
Perpassamos por vidas, e influenciamos nelas muito mais do que podemos imaginar...
Desculpem o saudosismo ,mas o mural de boas vindas me fez voltar no tempo e refletir o quão privilegiada sou ...
Agora peço licença tem gente de seis, sete , oito e nove anos me esperando ....
Esses, serão os adolescentes de amanhã e tomara que encontrem várias Tias Dani ( sem falsa modéstia) no caminho deles.


Beijos e Abraços, acolhedores e inclusivos

Daniela Marques


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Podemos e devemos aprender , de forma lúdica e interesante.

Ontem apresentamos a você leitor, a aprendizagem e algumas noções que a neurociências trás sobre a mesma.
Porém para que possamos ajudar nossas crianças e jovens, e até mesmo idosos, faz-se necessário a compreensão mais especificada de como se dá este processo.
Pense em alguma coisa que você aprendeu ao longo da sua vida, através de uma experiência positiva...
Pensou? Se pensou , é porque nunca se esqueceu dela, não esqueceu porque internalizou(assimilou) e em situações semelhantes aplicou o aprendizado. A este processo chamamos METACOGNIÇÃO. 
 A aprendizagem humana é uma interligação de três funções cerebrais: cognitiva, executiva e conativa.
 Cognição quer dizer: ato ou processo de conhecimento. As funções cognitivas são responsáveis pela execução de :memória, atenção, linguagem, percepção e funções executivas. O sistema cognitivo nada mais é do que a relação entre estas funções, desde os comportamentos mais simples até os de maior complexidade, que exigem muito mais do nosso cérebro.
As  funções executivas é o processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades, incluindo iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição de impulsos, por exemplo.
As funções conativas  é um recurso amplamente utilizado em textos que têm como intenção convencer o destinatário da mensagem. Quando escrevemos um texto, nossas intenções ficam evidentes. Para que isso aconteça, adequamos nossa linguagem para atender a um objetivo específico na comunicação.
A interface das funções aqui apresentadas aqui resulta na APRENDIZAGEM, que sedá por meio da METACOGNIÇÃO.
Através de exemplos práticos , vou apresentar a vocês cada uma das funções especificadas no texto de hoje.
O vídeo abaixo mostra de forma bem divertida e simples o processo de aprendizagem.
Espero que com essas informações cada leitor possa utilizar de maneira mais proveitosa , os instrumentos ambientais e materiais , para a construção dos seus processos de aprendizagem e de seus, filhos, alunos, jovens e idosos.
Beijoss e abraços acolhedores e inclusivos!!!!
Daniela Marques

 https://www.youtube.com/watch?v=40J8fCErbvk

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Muito prazer, sou a Dona Aprendizagem !!!!

Aprender é uma das atividades que está na rotina dos seres humanos. 
Durante nosso desenvolvimento aprendemos a reconhecer rostos familiares, andar e falar. Começamos a estudar e passamos a escrever e calcular. Mesmo depois da infância continuamos adquirindo conhecimento. Mas como funciona este processo tão natural ao ser humano, mas ao mesmo tempo tão nebuloso? 
Para  Freinet, criança era considerada o centro da educação pois a educação não começa na idade da razão, mas sim desde que a criança nasce.
Para Dewey, a educação está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno. 
Para Paulo Freirenão existia uma educação neutra: segundo a sua visão, toda a educação é, em si, política.
Para Kant, a educação prática era equivalente à educação moral.
Para Piaget, a aprendizagem está vinculada aos estágios de desenvolvimento do ser humano.
Para Montessori ( minha preferida 😊😊😊), o objetivo a educação deveria partir da vontade e da atenção, com o qual a criança tem liberdade de escolher o material a ser utilizado, além de proporcionar a cooperação.
Todos eles criaram métodos que  destinavam-se a ser um caminho para o alcance da aprendizagem , porém hoje em dia , com o surgimento da neurociência podemos entender de forma minuciosa como se dá o processo de aprendizagem. 
De acordo com a Neurociência, o aprendizado acontece em quatro estágios: primeiro temos uma experiência concreta, depois desenvolvemos uma observação reflexiva e conexões, criamos hipóteses abstratas e, finalmente, testamos ativamente estas hipóteses até obter uma nova experiência concreta. Em outras palavras, obtemos uma informação e damos algum significado para ela, depois criamos novas ideias a partir deste significado e as colocamos em prática. Durante este processo são utilizadas diversas áreas diferentes do córtex cerebral, cada uma apresentando uma finalidade única. Por isso, quando passamos pelos quatro estágios, ampliamos ou geramos uma nova conexão cerebral e essa é a maneira natural de aprender.

O aprendizado é uma conexão física que acontece no cérebro, assim como o significado. Por isso precisamos de exemplos, de associações com o que já temos conhecimento. Quando a nova informação faz referência a objetos ou eventos já conhecidos, o cérebro reforça essas sinapses e dá um significado. 
Conheci diversas crianças que apresentavam atraso ou mesmo prejuízos sérios cognitivos que eram advindos da falta de estímulos no processo de desenvolvimento e  aprendizagem.
Quer saber mais sobre a Dona Aprendizagem?
Amanhã conversamos mais um pouco!!!!
Abraços, acolhedores e inclusivos para vocês!!!!
Daniela Marques 


                       

                 



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

QUEM SOU EU? DE ONDE VENHO, PARA ONDE VOU?

Eu sou uma encantadora, encantadora de crianças, de animais e de algumas pessoas rsss.
Meu encantamento começou na infância , através dos livros, da escrita e da criatividade.
Eu era a aluna do cantinho da sala e da última fileira de carteiras, a timidez me levava para sentar lá. 
Como ficava no canto , prestava muita atenção em tudo e em todos  e desde cedo, fui colecionando personagens . 
Aos seis anos, escrevi um livrinho com aquela letrinha peculiar de quem acabou de ser alfabetizada, hoje a história que mistura formigas, cigarras e margaridas não faz o menor sentido, mas quando escrita deve ter feito para mim. Foi meu primeiro encantamento.
Não parei mais de ler e posso me lembrar de quase todos, Juca de Bicicleta, O ovo da Bruxa, Anjinha Terezinha , Marcelino pão e vinho , e por aí vai...
Até hoje , me perguntem qual o lugar que mais me encanta e prende.... livrarias...
Mas o meu encanto não parou por aí, aos poucos a dona timidez foi me largando e eu fui desabrochando e confiando mais em mim, passei a conviver com crianças um pouco diferentes,mas que nem por isso deixavam de ser encantadoras como eu. 
As crianças diferentes me ensinaram muito sobre solidariedade e superação, com elas eu compreendi que as dificuldades nada mais são do que pequenos impulsos para algo extraordinário, que me acompanha até hoje, a APRENDIZAGEM.
Cresci, tentei desviar o caminho do encantamento dos livros, da escrita e da criatividade para a leis. Não deu muito certo. Não tinha muita graça, muita seriedade junta, muita inflexibilidade. 
Voltei!!!!!
Voltei para as crianças diferentes, aqueles que já haviam me inspirado na infância. 
Agora eu podia ajudá-los a compreender, aprender e principalmente a se desenvolver.
Achei o caminho...um caminho do qual nunca mais consegui desviar, muito pelo contrário, cada vez mais tive certeza de pertencer a ele.
Ahhh como é bom fazer o que se gosta!!! Como é bom sentir prazer no que faz e não ver o tempo passar...
A aprendizagem, as diferenças, as dificuldade me trouxeram onde estou hoje.
Para onde vou pressinto que sei, mas como a vida não é feita de certezas absolutas, enquanto houver uma criança com dificuldades, com diferenças ou com alguma outra necessidade, aí estarei eu, sempre ENCANTANDO elas.
Continuaremos essa jornada juntos, vou dividir esse encantamento com cada um dos leitores.
Beijosss muito acolhedores e inclusivos.
Daniela Marques