Falar de superação parece muito pontual e simples.
Por superação , entendemos ser a quebra dos limites, ir além do que se é provável para pessoas e circunstâncias.
Superar uma circunstância difícil, um problema inesperado, uma dor, uma ausência, uma etapa...
Todos nós , dia a dia ,estamos nos superando, estamos superando pequenos e grandes obstáculos a cada minuto, com nossas escolhas e decisões nem sempre bem elaboradas.
Mas,para as pessoas com deficiência , a superação parece ser algo que demanda ainda maior esforço e empenho, mas acredito, que o gostinho que eles sentem ao chegarem ao fim do caminho vitoriosos, seja muito mais saboroso !!!
Em 2008 , fui convidada a compor a equipe do NAPES - NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO ESPECIALIZADO , pertencente à Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro.
O objetivo do NAPES era implementar a política de educação inclusiva nas escolas regulares de ensino médio do estado do Rio de Janeiro, além de orientar professores e acompanhar o desenvolvimento dos alunos com diversos tipos de deficiência, incluídos nessas escolas.
Fui um período de muito estudo, cada nova descoberta em relação a alguma deficiência era uma deliciosa surpresa. Saber que agora , haviam saberes e experiências concretas que poderiam facilitar o desenvolvimento e a frequência desses alunos na escola, nos enriquecia como profissionais e como pessoas.
Novas amizades surgiram, amizades de trabalho que se tornaram amizades de vida, mas isso é outra história, para outro texto!!!! Mas eu garanto que as amizades feitas em meio as dificuldades e emoções vivenciadas, formam laços tão fortes e verdadeiros que são impossíveis de se desfazerem.
Aprendemos Braille, LIBRAS. Estudamos sobre Tecnologias Assistivas,e nos debruçamos em legislações e decretos que garantiam os direitos desses alunos e seus familiares.
No primeiro momento a empolgação toma conta , porém na prática a história é outra, essa história, esse caminho, também foi de muitas barreiras, preconceitos e superações a serem vencidos.
Uma tarde recebemos um chamado agendando uma determinada escola em Jacarepaguá que deveríamos visitar e acompanhar a inclusão de um aluno novo.
Partimos determinadas , ansiosas e temerosas. Tratava-se de um jovem com paralisia cerebral, sem comunicação verbal e cadeirante, sem dúvida um caso difícil e trabalhoso onde iríamos ter que atuar com tato e profissionalismo.
Os questionamentos da escola foram muitos, dos profissionais envolvidos, inúmeros . Daria certo? Ele realmente entenderia o que se passava ,? Seria capaz de absorver alguma coisa mínima que seja dos conteúdos? Como seria a comunicação com ele? Quem acompanharia ele?
Chegamos para a reunião e nos deparamos com um rapaz lindo e sorridente e com uma mãe corajosa e determinada ,disposta a tudo para fazer valer os direitos dele.
Nos apaixonamos imediatamente pelo sorriso e carisma dele, ele falava com os olhos, e como aqueles olhos nos diziam coisas, nunca esquecerei aquele primeiro olhar que trocamos...
Definitivamente eu aprendi a ler os olhos e o que eles queriam dizer, com ele...
Depois dos preparativos iniciais e as adaptações necessárias, quando chegavámos na sala de aula para verificar como ele estava, de longe ele já me olhava sorrindo, e modestía a parte o sorriso para mim era diferente rsssss.... ( Já falei que sou um encantadora).
Otávio era o nome dele , e por Otávio e para Otávio nos nos empenhamos, estudamos, brigamos, aprendemos e nos emocionamos diversas vezes.
Ele foi exemplo e abriu caminho para vários outros alunos com paralisia cerebral cujas famílias tinham receito do processo inclusivo.
Foi exemplo para os colegas de sala e da escola toda.
Foi exemplo para os professores e foi exemplo para o próprio NAPES.
Se o processo inclusivo de Otávio deu certo, qualquer outro também teria sucesso.
Ele tinha uma mediadora que permanecia com ele em sala de aula.
Usava o computador e acoplado a ele , ao lado da sua cabeça, ficava um mouse que era acionado para fazer um processo de varredura de letras com as quais ele escrevia na tela .
Pura superação, pura criatividade, pura tecnologia, mas por trás disso tudo tinha uma mente perfeitamente consciente do seu potencial.
Chegou ao terceiro ano do ensino médio e na formatura foi homenageado pelos colegas com emoção e alegria, muita alegria!
Nosso choro foi de emoção e gratidão, por ter participado com ele desse desafio, por ter percorrido com ele e por ele esse caminho. Aquela vitória ,naquele dia, também era um pouco minha , e a história de superação do Otávio é só um de muitos exemplos que não me permite estagnar ou recuar quando me encontro com as dificuldades do caminho.
Nosso choro foi de emoção e gratidão, por ter participado com ele desse desafio, por ter percorrido com ele e por ele esse caminho. Aquela vitória ,naquele dia, também era um pouco minha , e a história de superação do Otávio é só um de muitos exemplos que não me permite estagnar ou recuar quando me encontro com as dificuldades do caminho.
Hoje, estou escrevendo super emocionada e morrendo de saudades...
Otavio e sua mãe vivem me prometendo um lanche da tarde com bolo e coca-cola que nunca se concretiza.
Mas não tem a menor importância, importante mesmo é que além da superação , da gratidão, do desenvolvimento e das conquistas que todos os envolvidos nessa história ganharam, está a amizade forte e verdadeira, marcada não em relatórios e fotos , mas nas nossas almas eternas....
Qualquer dia desses vamos nos encontrar para nosso bolo com coca-cola, e hoje, espero que cada um de vocês leitores possa se inspirar no exemplo dele nos momentos de pedrinhas nos sapatos e poeira nos olhos...
Beijosss e abraços acolhedores e inclusivos!!!!
Daniela Marques