segunda-feira, 20 de novembro de 2017

CULINÁRIA PEDAGÓGICA: Transformando dificuldades de aprendizagem em doces receitas

                                                                                 

 Desde muito cedo descobri com minha avó, com minha mãe e minhas irmãs as delícias da cozinha.
Passava as tardes com vovó  Aurora e lembro dos cheirinhos dos lanches sempre elaborados, mesmo que fosse só para nós duas: rabanadas, bolo de rolo, bolo de laranja, suspiro, pão de minuto. Coisas de vó!!! Memórias afetivas e sensoriais que nunca se apagam, que curam dores, saudades, angústias, ansiedades , e que constroem as pessoas que vamos nos tornando.
Ao iniciar meu trabalho com crianças com autismo me deparei com um dos aspectos que envolvem o transtorno e que torna mais difícil a interação com alguns deles: descobria algum interesse que pudesse servir de "ponte" para a nossa comunicação.
Lembrei do prazer que os cheiros, gostos, sons e texturas de uma cozinha proporcionam a qualquer pessoa e que, invariavelmente poderia dar certo também com eles também. E deu!!!!
Me lembro como se fosse hoje dos olhos de Carolina se iluminando e de seu sorriso brotando quando saiu do microondas um simplérrimo bolinho de caneca, que foi provado, e servido com muita euforia e emoção.
Daí em diante, foram pizzas, pães de queijo, pipoca, cupcakes, saladas de frutas, tapiocas, bolos , panquecas e tudo mais que continuo cada dia a inventar e adaptar para um período de atendimento de 50 minutos e que podem ser feitos em aparelhos elétricos, sem uso do fogão. Atualmente, por conta da dieta restrita de alguns deles sem consumo de glúten, lactose e caseína, tenho me dedicado a aprender receitas mais naturais e me empenhado no campo da nutrição para tornar até mesmo receitas sem açúcar em apuradíssimas delícias para o paladar e para a emoção.
Cada receita serve para trabalhar neles competências e habilidades que precisem ser estimuladas tais como: coordenação motora 
( mexer, descascar, amassar, abrir latas, abrir garrafas, enrolar biscoitos, confeitar, cortar,  escrever , lavar a louça,etc), atenção e concentração ( ler a receita, separar os ingredientes, observar as medidas das receitas, observar o tempo de cozimento, etc), quantidade , raciocínio lógico, leitura e escrita habilidades sociais ao servir as receitas prontas, entre outros... os objetivos e hipóteses de utilização desta metodologia que integra o lúdico, o pedagógico e o terapêutico são infinitas.
Já ouvi expressões do tipo: -Estou emocionado para comer esse bolo!! - Você está feliz? Eu estou feliz! - Cozinheiros se sujam mesmo, não tem problema!!! E atrás de cada expressão dessas a concepção de que através deste simples prazer estou contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento de cada um deles.
Muito além de trabalhar as questões ligadas as dificuldades de aprendizagem estamos trabalhando juntos o que Françoise Dolto   , psicanalista que dedicou-se ao cuidado e observação de crianças pregava: AO INVÉS DE ENSINAR ALGUMA COISA A ALGUÉM, APRENDA COM ELA,as crianças, assim como as pessoas com deficiência são esponjas vivas de tudo que está ao seu redor, só cabe a nós ,aprender como ajudá-las e no fim , seremos nós mesmos  os mais beneficiados.